CORPOS EM EXPERIMENTAÇÃO AÉREA
Wagner Ferraz(*)
Assisti ao espetáculo AUTO ESTIMA DELIRANTE do Circo Híbrido no dia 07 de dezembro de 2019, às 20:30 h, no Teatro Renascença em Porto Alegre (RS). O espetáculo foi empolgante, divertido e forte, o corpo em força política estava escancarado em cena. Digo político, por se tratar de suas possibilidades de ação. Sendo essas, assumidas e levadas para a cena, encarando as condições postas para se viver num mundo (país, cidade...) no qual produzir arte/cultura vem a ser andar na contramão.
Tendo posto essas palavras iniciais, falar que os corpos flutuavam soa clichê para essa proposta. E pensar-escrever “com” esse espetáculo torna-se um desafio. Consigo destacar duas linhas de pensamento com as quais posso, brevemente, discutir esse desafio, outras eu não sei nem explicar, só me sinto desafiado. Isso é instigante!
A 1º linha de pensamento diz respeito ao trabalho de formação realizado pelo Circo Híbrido. Um trabalho de dedicação, de empenho e de busca pelo aprendizado e produção cultural, oportunizando uma experiência de formação artística. Trata-se de um trabalho contínuo que traz em si uma pesquisa cênica que apresenta singularidade. Então, falar de um espetáculo que é fruto desse trabalho contínuo é muito desafiador, pois se faz necessário selecionar algo para dizer que, certamente, não traduzirá quase nada da potência artística e formadora do Circo Híbrido.
A 2º linha de pensamento é parte da primeira. Trata da produção artística, da criação, daquilo que se desdobra do trabalho de formação e que vemos em cena. Tenho a impressão que, além da “marca” do Circo Híbrido impressa na proposta, os(as) alunos(as)/artistas colocam sua assinatura no espetáculo. Penso isso, por tantas vezes perceber que as singularidades de cada um não são apagadas, tantas vezes são borradas e misturam-se com a de outros(as), mas os traços pessoais não somem.
Sem contar o tom de delírio no qual apostaram, com uma trilha sonora que convidava se perder um pouco de si, para se lançar num mundo de experimentação. O espetáculo instaura um plano de experimentação no qual a ação torna-se a ordem do dia. Lembrando que o direito e a possibilidade de agir constituem as condições de um corpo político. Assistir torna-se uma experimentação pois, as surpresas nos pegam, não há tempo para prever o que acontecerá, tudo está em movimento, parece que linhas de tempo rompem com as divisões arquitetônicas e o espaço cênico cresce.
Brilho, luz, elementos cênicos, cores, músicas... tudo em movimento constante. Num país ondem tentam obrigar a cultura a parar, manter o movimento vem a ser um ato de resistência. De cima a baixo os(as) artistas rompem o espaço do horizonte visual e sobem de descem em velocidade diversas. Não formam figuras, mas imagens delirantes, imagem que podem fazer a imaginação assumir seu caráter genuíno – romper com as imagens prontas.
Isso me levar a lembrar do espetáculo DAS AMARRAS DELA, também do Circo Híbrido, que assisti no dia 18 de maio de 2019, às 21 h no Theatro São Pedro em Porto Alegre (RS). Naquele momento não consegui escrever algo “com” o espetáculo por falta de tempo. Mas aproveito a oportunidade e a discussão para escrever agora. Pois nos dois espetáculos pode-se perceber o trabalho dedicado a pesquisa das amarras aéreas, das tramas, das laçadas, das passadas pelo ar na qual há sempre uma novidade.
Em DAS AMARRAS DELA, tecido, solo, parede, teto são produzidos pelo ar movido pelos corpos que atravessam a paisagem cênica. Uma, duas ou três pessoas no ar mostram que o repertório conhecido é refeito, é pensado, é traduzido com outras amarras, assim se dá a criação. O movimento é potente para isso, a busca pelo trânsito no espaço cênico também, mas não posso esquecer de dizer que a disponibilidade dos corpos e a preparação dos mesmos é extremamente fundamental e necessária para tudo isso ocorrer.
Por mais que um seja um espetáculo que apresenta o trabalho de formação e o outro apresenta a investigação que se dá pelo Núcleo de Pesquisa em Dança Aérea do Circo Híbrido, nos dois é possível perceber imagens novas se instaurando, imagens produzidas pela potências de agir dos corpos que são lançados em experimentação.
Sigam pesquisando, estudando, formando, desfazendo, produzindo paisagens visuais ao colocar os corpos em experimentação. Sucesso sempre!!!!
Parabéns Tainá Borges e Lara Rocho!
Parabéns à toda equipe!
Parabéns Circo Híbrido!
Abraço
Wagner Ferraz
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Informações e sinopse conforme divulgação:
AUTO ESTIMA DELIRANTE
Espetáculo de Final de Ano da Escola Circo Híbrido
Em seu 8º espetáculo anual da Escola Circo Híbrido traz à cena o espetáculo “Auto estima delirante”. Pensando no contexto atual, onde liberdades individuais estão sendo cerceadas, propomos uma dança resistência, que enaltece a potência dos indivíduos em encontros consigo mesmo e com o outro. Em seu enredo figuram composições coreográficas que permeiam a construção da subjetividade, através da metamorfose e a potência de si. Esse espetáculo de dança aérea propõe uma reflexão acerca da arte - e aqui especialmente a dança e o circo, enquanto espaço de prática de saúde e resistência, não apenas como um lugar de valorização e apreciação estética na produção artística. “Auto estima delirante” é sobretudo um espetáculo que dá vazão à expressão de um corpo político que se comunica dançando. A criação artística, como exercício do delírio, é a expressão das singularidades. Dancemos o delírio!
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AUTO ESTIMA DELIRANTE
6, 07 e 08 DE DEZEMBRO, 20h30, no Teatro Renascença.
VENDA DE INGRESSOS (somente em dinheiro):
Antecipados - R$ 25 - na Loja Sirius Artigos Esotéricos (República, 304 - CB)
Na hora* - R$ 50 (inteira) / R$ 25 ( estudantes, alunos do circo, idosos, classe artística, municipários)
* de acordo com a lotação máxima do Teatro que é de 280 lugares.
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Ficha Técnica:
Direção Geral: Tainá Borges e Lara Rocho
Concepção e orientação coreográfica: Tainá Borges, Lara Rocho, Simone Balestro, Mariana Kich, Agatha Andriola, Raquel Braun, Jade Gräwer e Joana Gianastácio
Cenografia: Luís Cocolichio
Projeto gráfico e figurinos: Mônica Kern
Fotos e Vídeos: Sal Fotografia
Iluminação: Mirco Zanini
Operação de som: Vado Vergara
Bilheteria: Bebela Borges
Inspiração para o título do Espetáculo: Noporn (Maiô da mulher maravilha)
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Saiba mais sobre o Circo Híbrido
www.circohibrido.com
Informações disponíveis em: https://www.facebook.com/events/506892370160691/. Acesso: 08 dez 2019.
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DAS AMARRAS DELA
Espetáculo indicado em 5 categorias do Prêmio Açorianos de Dança 2018, ganhador do prêmio de melhor Cenografia;
Abrindo as comemorações dos 15 anos do Circo Híbrido, nosso Núcleo de Pesquisa em Dança Aérea apresenta a segunda temporada do espetáculo Das amarras dela. Um espetáculo de circo e dança aérea sobre as representações do corpo feminino na dança. Traz à cena coreografias inspiradas em três movimentos de vanguarda – o balé romântico, a dança moderna e a dança contemporânea – nas quais constroem-se retratos do corpo feminino atravessado por cada contexto. É sobre o feminino, é sobre a dança, é sobre as amarras que a dança pode imprimir nos corpos femininos.
Esperamos todos para celebrar com a gente nesse lindo final de semana pendurado!!
Ingressos antecipados na bilheteria do teatro ou no site: https://bit.ly/2vl9lbY
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Das Amarras Dela
Dias: 18 e 19 de maio de 2019
Horário: 21h
Local: Theatro São Pedro (Praça Mal. Deodoro s/n)
Indicação de faixa etária: 14 anos
Ingressos:
Platéia Baixa: R$ 50,00
Camarote Central: R$ 40,00
Camarote Lateral: R$ 30,00
Galeria: R$ 20,00
Meia entrada para: Alunos do Circo Híbrido; Estudantes; Idosos; Doadores de sangue; Pessoas com deficiências; Jovens de baixa renda; Classe Artística.
Venda antecipada na bilheteria do teatro ou no site: https://bit.ly/2vl9lbY
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Ficha técnica:
Concepção, Direção e Orientação Coreográfica: Tainá Borges e Lara Rocho;
Elenco: Tainá Borges, Lara Rocho, Maílson Fantinel, Simone Balestro, Liss Larissa Andrade, Livia Iglin, Raquel Braun, Mariana Kich e Agatha Andriola;
Iluminação: Mirco Zanini
Operação de som: Vado Vergara
Cenografia e Montagens: Luís Cocolichio
Figurinos: Clarissa Marchetti
Produção e divulgação: Circo Híbrido
Registro de Imagens: Sal Fotografia
Design Gráfico: Mônica Kern
Informações disponíveis em: https://www.facebook.com/events/396272464544743/. Acesso: 08 dez 2019.
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Para referenciar este texto:
FERRAZ, Wagner. Corpos em experimentação aérea. In.: Dance Dance, ano 5, n. 5, 09 dez. 2019,
Porto Alegre/RS. Disponível em: www.dancedancebr.weebly.com
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*FERRAZ, Wagner: é um dançante/artista, pesquisador, professor e editor. Doutorando no PPG em Educação e Ciências (UFRGS), Mestre em Educação, Pós-Graduado em Educação Especial, Pós-Graduado em Gestão Cultural e Graduado em Dança. Coordenador dos Estudos do Corpo www.estudosdocorpo.com, editor da Revista Informe C3 www.informec3.weebly.com e Coordenador Editorial da Canto. Já organizou e escreveu alguns livros que podem ser encontrados em http://canto.art.br/canto-editorial/. Atua como professor em cursos de Graduação e Pós-Graduação lato sensu na área da Educação e Dança, já tendo atuado na UFRGS, CAPACITAR, UCS e UNISINOS. Atua como professor de dança no projeto Cartografar Corpos a Dançar. Editor e escritor do blog https://dancedancebr.weebly.com. Criador e professor do curso de formação de professores Educação Criadora, junto com Fernanda Bertoncello Boff, www.educacaocriadora.com. Contato: [email protected]