CHOKING –
UMA MAQUINARIA CORPO-CÊNICA-DANÇANTE
Wagner Ferraz(*)
1 par de sapatos... + 4 pés a rotar...
2 corpos... agora já são 3.
Um corredor através da parede, que se desfaz quando a porta se abre.
Som forte! Susto!
Sem saída, pode bater o quanto quiser, ficará sozinha com as luzes recortando imagens.
Talvez só reste fugir pela multidão que só observa.
Choking
Não há nenhuma novidade no modo como encaro a escrita acerca de obras de dança, sempre assumo o que venho pesquisando desde 2011 de pensar, escrever, educar, criar, produzir, pesquisar, dançar “com”... E venho aqui tratar do que passo a pensar com o espetáculo de dança Choking, da Muovere Cia de Dança, com coordenação geral e direção coreográfica de Jussara Miranda. A obra foi apresentada nos dias 07, 08 e 09 de dezembro de 2017, no Instituto Ling em Porto Alegre/RS.
O espetáculo me capturou com a primeira imagem... silêncio, bailarinas ali na minha frente ao modo de manequins de vitrine, impossível desviar os olhos daquela paisagem cênica corporal. Até que dois corpos viram três... movimento, música, audiovisual, imagens diversas, figurino, trilha sonora, corpos dançando, luz... Tudo me dá condições de pensar uma maturidade artística e cênica na qual toda a obra se deu, o que prefiro chamar de uma maquinaria corpo-cênica-dançante.
“Com” Choking consigo tratar do profissionalismo que produz uma dança, da maquinaria produtiva de uma obra, daquilo que é difícil explicar, mas que quando assistimos a um espetáculo, algo nos envolve ao assistir, nos engole, nos captura, nos seduz, nos embriaga, nos hipnotiza... O espetáculo está em si constituído artisticamente feito um polvo com seus tentáculos, digo isso por pensar nas possíveis escolhas feitas na criação da obra, sejam quais forem elas, produzem uma obra bem resolvida. Resolvida a ponto de nos envolver, e por mais que eu tenha feito o exercício de procurar algo para apontar, algo a ser resolvido, não encontrei nada. Tudo está articulado, move-se, mas não se desconecta do trabalho, ou seja, está em constante movimento que não é desarticulado da obra. E aqui cabe destacar o movimento incrível de manutenção dessa maquinaria feito pelas bailarinas Angela Spiazzi, Letícia Paranhos e Joana Nascimento, que não fazem dança, se tornam dança.
Por isso falei da maquinaria, que muitos poderiam falar de presença ou estado de presença, mas isso me levaria para outras discussões, pois não se trata apenas de quem está em cena, se trata de toda a maquinaria produzida para criar e realizar o espetáculo, de tudo que funciona e faz funcionar. Inclusive daquilo tudo que não se vê em cena e que, com certeza, foi extremamente necessário para que tudo se desse com sucesso. “Maquinaria singular, que deve ser elaborada com novos esforços, ser descrita como adóxica, construída como serial com pelo menos três termos, sendo um deles paradoxal, produtora às voltas com o aleatório”. (Wall, 2000, p. 119)[1]
Penso “com” o espetáculo uma maquinaria que dança, feita de movimento intenso, de paisagens corporais cênicas, de visualidades que me movimentaram... Uma maquinaria corpo-cênico-dançante, que sufoca de tanto que faz mover, mas paradoxalmente me faz respirar pelos fluxos desses mesmos movimentos que me despertam para seguir.
Parabéns Jussara Miranda e tod@s envolvid@s!!! Sucesso sempre!!!
Abraço
Wagner Ferraz
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CHOKING
Coordenação Geral e Direção Coreográfica: Jussara Miranda
Coordenação Artística e Direção Cênica: Diego Mac
Elenco: Angela Spiazzi, Joana Amaral e Letícia Paranhos
Coordenação de Produção: Joice Rossato – Aresta Cultural
Produção Executiva: Laís Werneck
Iluminação e Videografia: Ricardo Vivian
Figurino: Antonio Rabadan
Costura: Marcia Groski
Maquiagem: Nilton Gaffrée Jr.
Identidade Visual e Projeto Gráfico: Sandro Ka
Fotografia: Cristina Lima, Gui Malgarizi e Rossato Lima
Texto – Episódio Tutorial: Gui Malgarizi
Trilha Sonora Pesquisada e Intervenção Cênica: Diego Mac
Registro e Edição Videográfica: Rossato Lima
Assessoria de Comunicação: Bruna Paulin – Assessoria de Flor em Flor
Sinopse do espetáculo:
Mediado por dispositivos e interfaces digitais, foi criado a partir de questionamentos sobre as relações estabelecidas entre realidade e ficção na interação cotidiana com a internet. Apresenta um conjunto de peças coreográficas que dialogam sobre noções de violência, movimento, sincronismo e anacronismo. Simultaneamente, ocupa-se da cena explorando as particularidades geoespaciais do espaço teatral, em tempo real.
Espetáculo de dança é resultado do projeto WEBCOREÔ/Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna 2014 pela Muovere Cia de Dança. Convidado, participou da Sétima Edição do projeto MODOS DE EXISTIR: Dança e(m) intermidialidades, no SESC Santo Amaro/SP, coordenado e mediado pela pesquisadora Ivani Santana.
Fios, telas, carnes, operações, olhos, figuras, figurinos, roupa de batalha, espaços reais, virtuais, imagens, tempo objetivo do relógio, tempo dramático do espetáculo: tudo junto, misturado, no palco, no lugar dos acontecimentos. Ponto de partida. (Diego Mac).
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[1] WALL, François. O corpo de dados do sentido. In.: ALLIEZ, Éric (org.). Gilles Deleuze: uma vida filosófica. Coordenação da tradução de Ana Lúcia de Oliveira. São Paulo: Ed. 34, 2000.
Fotos do Espetáculo
2017_-_choking_-_maquinaria.pdf |
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*FERRAZ, Wagner: é um dançante/artista, pesquisador, professor e editor. Doutorando no PPG em Educação e Ciências (UFRGS), Mestre em Educação, Pós-Graduado em Educação Especial, Pós-Graduado em Gestão Cultural e Graduado em Dança. Coordenador dos Estudos do Corpo, Revista Informe C3 e Coordenador Editorial da Canto. Já organizou e escreveu alguns livros que podem ser encontrados em http://canto.art.br/canto-editorial/. Atua como professor em cursos de Pós-Graduação lato sensu na área da Educação e Dança, já tendo atuado na UFRGS, CAPACITAR, UCS e UNISINOS. Contato:[email protected].